«Esta equipa tem uma fome intrínseca de vitória»

Texto: Marcelo Neves

Foto: Manuel Azevedo


Como tem o clube e a equipa encarado este feito de superar a marca da centena de golos no campeonato de Juniores “A”?

PA –  É uma marca que nos enche de orgulho, mas conhecendo estes rapazes como eu os conheço, e já venho a trabalhando há alguns anos com eles, a parte química deles não vai abrandar. Tenho a certeza que, jogo após jogo, eles vão querer continuar a aumentar esse “score” e tentar, ao mesmo tempo, que permaneçamos imbatíveis no sentido de nos projectarmos cada vez mais.

Foi algo programado? Era uma meta definida?

PA – Nada! Quando preparámos a estrutura da equipa, sabíamos que o conjunto era fortíssimo e que neste campeonato seria dificílimo baterem-nos dentro de campo. A fasquia dos golos é fruto do trabalho diário, da força, da dinâmica colectiva. Temos uma maneira muito própria de estar em campo, somos uma equipa que se pauta por uma organização defensiva complexa que depois nos desdobramentos ofensivos procura finalizar o máximo possível, independentemente do adversário, com todo o respeito. E independentemente do resultado, tentamos dilatá-lo sempre mais.

Pode ser um pouco humilhante para o adversário, ou não?

PA – Nós temos alguma culpa disso, na medida em que estas quatro gerações que figuram nesta equipa, de 1996 à 1999, foram treinadas por mim ou pelo meu irmão, em que desde sempre lhes exigimos esse rigor: ir sempre à procura de mais. Esses vícios vão se interiorizando dentro deles e nada tem a ver com humilhação, mas o fruto de um trabalho que está rotinado. E eles sabem que o background deles, que somos nós, o exigimos. É proibido abrandar.

Como se motiva uma equipa que, ao cabo de uns minutos já tem um marcador dilatado e os três pontos estão já garantidos, a correr mais, a lutar mais e a marcar mais ainda?

PA – Não é fácil, confesso. Ainda no fim de semana passado, frente ao Argoncilhe, nos primeiros 2 ou 3 minutos de jogo já tínhamos inaugurado o marcador. Mas a verdade é que estes miúdos estão habituados a ganhar, a serem campeões e têm uma fome de vitória intrínseca e cada um deles tem objectivos muito próprios que nós fazemos questão de definir logo no início da temporada. Temos um método de trabalho e tratamento estatístico em que, através das gravações dos jogos, controlamos diversos factores e na semana seguinte incitamos o atleta a melhorar a sua performance naquele capítulo em particular, superando a sua fasquia. No caso dos finalizadores, como o Nuno e o Manu, eles próprios têm objectivos individuais que sei que procuram superar todas as semanas.

A equipa está toda a jogar para o Manu ser o melhor marcador do campeonato?

PA – Não, não está e prova disso é que no último jogo tivemos outros goleadores, casos do Leandro e do Nuno, que fizeram dois golos, cada. Tivemos outros jogadores a saltar do banco e a marcar também. É normal que trabalhem para o Manu marcar, mas não somente para ele como para todos os que estão na frente de ataque.

Esta discrepância enorme entre o Cesarense e as restantes equipas, reflecte, no fundo, um fosso enorme em termos de qualidade?

PA – Com todo o respeito por todas as equipas e clubes, penso que este campeonato pauta-se por um grupo de 7 ou 8 equipas que conseguem ombrear connosco e dificultam-nos imenso a vida porque quando nos enfrentam a motivação deles é enorme, enquanto nós temos a motivação de preservar os nossos próprios objectivos. São equipas que se defendem bastante, jogam sempre num bloco baixo e cada vez é mais complicado contrariarmos essa situação. Raro é o jogo em que eles assumem o jogo taco-a-taco, mas por outro lado isso também contribui para que a nossa equipa desenvolva outros parâmetros, nomeadamente ter de jogar só em meio-campo e tentar encontrar soluções ofensivas para marcar. Isso obriga a jogar com muita paciência e inteligência. Depois, do 8º lugar para baixo já se verifica uma diferença relativa em alguns aspectos que se traduzem no avolumar de resultados e alguma descrença, pois acredito que muitos clubes, pela ausência de motivação dos miúdos na parte competitiva, desistem ao fim de terem sofrido três ou quatro golos e isso conduz a um desfecho volumoso.

A partir daqui, bater esta equipa em campo será uma espécie de prodígio,

PA – Ninguém gosta de perder, como é óbvio e muito menos de ser goleado. Muitas equipas quando vêm jogar ao “Mergulhão” nota.se que têm como estratégia levar pelo menos o empate ou tentar marcar num lance de bola parada ou num dia menos positivo nosso. Todo o grupo tem consciência de que a cada jornada que passa a responsabilidade aumenta e muito, porque toda a gente, a nível interno defende uma dinâmica de vitória crescente. Para qualquer equipa vencer-nos penso que seria motivo para festejar como se tivessem subido de divisão. Isso faz parte do futebol, nós estamos preparados para essa pressão extra e até nos torna mais vivos!

Essa pressão extra passa para o balneário ou a equipa técnica procurar filtrar?

PA – Eu procuro libertá-los e se um dia visitar o nosso balneário antes do jogo vê-os descontraídos, a ouvirem música enquanto estão a equipar-se. Sei que eles gostam disso e eu também me sinto bem, desde os meus tempos de jogador. Mas essa liberdade traz sempre responsabilidade junta. Mas há momentos muito próprios, por exemplo na mobilidade entre o balneário e o túnel de acesso ao campo nota-se neles um fervilhar crescente, eles são muito intensos na forma como se concentram e se motivam uns aos outros na entrada em campo. A pressão que há é positiva.