«Tivemos o pássaro do título mundial na mão!»

Texto: Marcelo Neves

Fotografia: Manuel Azevedo


No balanço da participação de Portugal no último Torneio Mundial, na Costa Rica, no final do ano passado, a selecção das quinas repetiu pela terceira vez o estatuto de “vice”, atrás do Brasil, campeão totalista. Para quando um primeiro lugar de Portugal? Ainda estará longe esse dia? 

SF – Penso que na última edição merecíamos o título. Tivemos o pássaro na mão por duas vezes e deixámos escapar no derradeiro momento. O segundo lugar só mostra que, se continuarmos nesta senda, temos possibilidade de, a curto prazo, conseguirmos o 1º lugar. Perdemos uma oportunidade de ouro para consegui-lo na Costa Rica mas já passou e temos de pensar na próxima edição e conseguirmos aquilo que todos ambicionam, que é sermos campeãs mundiais.

CM – Das três vezes que ficámos em segundo lugar, sem dúvida esta última foi aquela em que foi notória o maior grau de competitividade e estivemos mais perto de trazer o título para Portugal.

Existe uma diferença muito grande entre o Brasil e as outras selecções?

CM – Há uma diferença, mas não é assim tão grande quanto parece. Penso que Portugal e Espanha têm bastante qualidade e mesmo Costa Rica e Guatemala demonstraram que daqui a uns tempos podem lutar pelos lugares cimeiros.

SF – A Rússia também está a aproximar-se desse grupo de primeira linha, apesar de não ter sido um ano tão bom para elas, mas está num nível muito próximo das outras três equipas. As restantes estão um nível abaixo, mas nota-se haver uma evolução e talvez no futuro possa de facto haver uma competitividade muito maior entre as selecções que participam no Mundial.

DF – Na minha opinião a principal diferença é que as jogadoras brasileiras estão mais habituadas a competir ao mais alto nível, provavelmente ao longo da época disputam campeonatos igualmente exigentes. Se nós formos assíduas neste tipo de provas também poderemos alcançar esse nível, à custa de uma maior maturidade e se calhar para uma próxima o Brasil já não consegue dar a volta ao resultado e já ganhamos. Com maior experiência vamos aprendendo com os erros e só assim seremos capazes de gerir melhor determinadas situações e emoções, não desestabilizarmos e evitarmos sermos surpreendidas.

 

Falando em maturidade, tanto a Daniela (“Pisko”) como a Sofia têm presença assídua na selecção e participaram nos cinco Mundiais, portanto não constitui novidade a pressão desses grandes jogos.     

DF – Sim, de certa forma não é nada de novo, se bem que todos os anos haja sempre algo diferente, as selecções também mudam, as circunstâncias mudam… O que não muda nada é a nossa motivação e ambição, que são sempre maiores de ano para ano. Nunca fomos campeãs e isso leva-nos a entrar com os índices motivacionais bem elevados no sentido de podermos atingir a Fase Final sem percalços e podermos lutar pelo título.

A Cátia, por seu turno, depois de ter estreado na convocatória e num Mundial, em 2011, em Fortaleza (Brasil), falhou a presença na prova organizada em Oliveira de Azeméis no ano seguinte, regressando ao lote de eleitas nos dois últimos anos. Foi um ano atípico, esse de 2012?

CM –  Esse ano foi o do meu regresso de Espanha, na altura em que ingressei no Novasemente Cavalinho. Se não fui convocada deveu-se a opções da equipa técnica, não me compete discuti-las. Na altura o seleccionador entendeu que não deveria fazer parte do lote de convocados… nada a dizer. Não, não foi uma surpresa negativa para mim e quem lá esteve representou muito bem o nosso país, ficámos em segundo lugar. Obviamente que desejo poder estar presente nos futuros compromissos da selecção, aliás quem não gosta de representar o seu país ao mais alto nível? Mas também sei que existe muita qualidade em Portugal e nessa medida tenho de lutar sempre mais para poder lá estar.

Sente que houve uma evolução qualitativa das equipas de futsal feminino e que exponenciou o universo de atletas seleccionáveis?

CM – Creio que o Campeonato Nacional veio trazer muita qualidade ao de cima, uma maior competitividade entre as equipas e as jogadoras e isso eleva o leque de possibilidades para a Selecção.

É difícil conciliar a actividade profissional com a paixão do futsal?

CM – É muito fácil conciliar, desde que haja uma abertura da parte da entidade patronal. Com diálogo – falando é que a gente se entende – dá para continuar a conciliar ambas coisas.

SF – Se calhar nós também escolhemos actividades profissionais que nos permitem ter margem de manobra para prosseguir a carreira no futsal, mas temos noção de que nem todas as profissões são compatíveis com determinados horários. Se, por exemplo, fizer um turno à noite não vou conseguir treinar. Se calhar deixei para trás alguns trabalhos exactamente porque não me permitiriam treinar e jogar e na altura, pela idade que tinha e outras questões, optei pelo futsal. Claro que é importante havr abertura da parte do empregador, mas é igualmente verdade que quando abraçamos uma profissão, também sabemos para o que vamos e as responsabilidades que temos de assumir. Depois, é relativo: há patrões que terão essa flexibilidade e permitem isso e outros que terão essa flexibilidade e podem ajudar mas se calhar não o fazem. Neste momento não tenho e como estou ligada à actividade física [NOTA: Educação Física Adaptada na CERCI] as pessoas entendem melhor o que é estar numa selecção feminina de futsal, que não tem as mesmas regalias do futsal masculino, nem goza do mesmo estatuto de desporto de Alta Competição. Só esta diferença de tratamento coloca inúmeras limitações e conheço muitas ex-colegas que acabaram por abandonar o futsal por causa dessa incompatibilidade com as suas profissões.   

DF – Neste momento não estou a exercer [NOTA: Técnica de Radiologia], mas concordo com a Sofia no aspecto de que depende muito da área de actividade que escolhemos e da abertura do patronato. No meu caso dependeria muito do local de trabalho. Por exemplo se estivesse num hospital e a trabalhar por turnos, provavelmente não poderia estar presente em muitos treinos, jogos e convocatórias. Agora, entendo que deveria existir uma lei que defendesse mais os atletas que, tal como nós, não são profissionais mas que representam Portugal numa qualquer modalidade. Para as entidades patronais não constitui justificativa plausível estarmos a faltar ao trabalho para actuar pela selecção nacional e essa mentalidade deveria mudar, a par de uma normativa que nos protegesse mais.