A fundação e os primeiros tempos do União de Lamas

Legenda da Foto:
A equipa do União de Lamas na época de 1932/33, da esquerda para a direita:
Rei, Beto, António, Martinho, Mário, Carlos, Euclides, Armando, Carrelhas, Santos e Henrique da Beira.
Texto: José Santos/ Carlos Silva
Ano de 1928
Pegando nas palavras dos seus fundadores, em artigos divulgados em jornais regionais, esta agremiação começou como tantas outras por iniciativa dos jovens da altura, para a prática do futebol.
Nas freguesias vizinhas este desporto começara na década de 20, o que não invalida que o mesmo não se praticasse cá, mas os tempos eram difíceis e encontrar um campo para a sua prática era quase uma miragem.
Eram rapazes com vontade de praticar este desporto, impulsionados pela existência de outros nas freguesias vizinhas, os quais acompanhavam os treinos, os jogos e alguns chegaram inclusive a participar neles, até que formaram um grupo em 1928, dando-lhe o nome de UNIÃO DE LAMAS FOOTBALL CLUB.
Recordamos os nomes dos fundadores, Henrique de Amorim, José Coelho Mendes, Joaquim de Sá Mendes Bernardino Gomes Júnior e José Rodrigues Pereira.
Foram necessários três anos até conseguir um campo rudimentar, tudo obra do Bernardino Gomes, que conseguindo influenciar o Serafim Gomes, o dos Moinhos, da cedência dos terrenos para a construção de um campo com muito sacrifício desbravado, do qual chamaram campo da Tapadinha, depois definitivamente campo do Carrascal.
Orgulhoso e feliz pela bondade que teve a sua sobrinha e com muita vontade de ver a equipa jogar, «não só ele como também o restante grupo de fundadores». Eis que surge o mítico campo da Tapadinha.
O começo dos jogos em 1929
Como tudo que é novo, foi muito complicado pois os atletas eram muito impreparados: a maioria era trabalhadora nas indústrias transformadoras, outra não tinham mais de 19 anos, os treinos eram de madrugada e à noite nas noites de luar, às escuras no inverno, um cabo de tormentas.
A história destes treinos e jogos poderá incluir todo o período que vai desde as convocatórias para os jogos amigáveis, até aos jogadores seleccionados nas tascas e nos cafés, à selecção à saída da missa, algures nos jogos de baliza a baliza.
Apesar de tudo, foram tempos formidáveis dadas as dificuldades do momento, pois trabalhava-se de dia para usufruir de uma refeição à noite. A partir daqui nada seria igual, nada seria como dantes, os jogos a brincar dão lugar a jogos cheios de rivalidade, e as brincadeiras da bola dão lugar a partidas puramente apaixonantes.
Os horizontes das gentes de Lamas alargam-se e não se discutem durante a semana só os problemas da lavoura e da cortiça, mas também os jogos realizados pelo União de Lamas.
A criação do União de Lamas, é com certeza o momento mais marcante, é o momento que decide, ou seja o marco histórico na vida de um clube de futebol que pensa em competir de uma forma mais séria com adversários vizinhos e não só.
Em 1930, data da inauguração adiada por motivos de insegurança
O ano de 1930 é o ano da primeira tentativa de inauguração do campo do Carrascal e para isso o União de Lamas F.C. convida a equipa do Comércio e Industria de S.J. Madeira para o evento. Inesperadamente, tudo é cancelado pela A.F. de Aveiro, que não autorizou a desejada festa por entender que o campo não tinha as condições impostas pelos regulamentos, pelo que o sonho de todos os lamacenses ficou adiado.
Em 1931, a cor das camisolas
Foi com camisolas brancas e calções pretos arranjados à pressa, tal era a ânsia de jogar à bola, que o U. Lamas começou a dar os primeiros pontapés.
A essas camisolas junta-se também o emblema criado e desenhado por Américo Relvas irmão do Carlos João que foi atleta, dirigente do clube e foi um símbolo da bandeira da nossa terra. Algum tempo depois essas mesmas camisolas foram substituídas por outras com listas verticais de vermelho e preto, que foram copiadas do equipamento do Vilanovense F. C.
E assim o União de Lamas entra em campo com as camisolas às listas verticais vermelhas e pretas.
Em 1932, a construção do Campo do Carrascal…“Tapadinha”
Depois de terem tentado sem êxito que o campo fosse para a quinta da família do Vitorino do Alberto, situada onde hoje temos a urbanização junto da cantina escolar, o Bernardino Gomes pediu à sua sobrinha Bernardina Gomes para que ela cedesse o campo de cultivo que era dela e do seu marido o Sr. Serafim dos Moinhos, para a construção do Campo do Carrascal e a Bernardina deu-lhe o campo e assim nasceu o Campo do Carrascal, rodeado de um vasto pinhal e árvores de fruta à sua volta.
Em 1932 a inauguração do campo do Carrascal torna-se uma realidade, num jogo com a equipa do U. de Coimbra, mas com a curiosidade de se realizar à noite. Os fundadores do clube, em colaboração com técnicos de electricidade, projectam a iluminação do campo, colocando lâmpadas a toda a volta do recinto tornando o campo do Carrascal o primeiro recinto desportivo em Portugal com luz eléctrica. Foi o primeiro jogo realizado à noite no nosso país. De salientar que a energia eléctrica fornecida para este jogo foi da responsabilidade da serração G. Mota.
A surpresa inesperada
A 22 de Maio de 1932 o União vai jogar a Macieira de Cambra, jogo cheio de peripécias e emoção, o resultado prova isso mesmo, 2-2.
No decorrer da partida o então interino timoneiro do clube o Sr. Bernardino Gomes sente-se mal é assistido de imediato pelo seu filho o Dr. Alfredo Mota mas sem êxito.
Sendo então transportado para casa por ordem do mesmo, Dr. Alfredo Mota, dado que ele faleceu ali mesmo.
A Época de 1932/33, o passo sério
Arrasados com o que acontecera os restantes elementos da direcção não desistem e são feitas as correcções ao campo cujo registo é assinado e tomado medidas para a filiação do clube pelo António Gomes da Mota, o que acontece a 1 de Outubro de 1932 com o nome de UNIÃO DE LAMAS FOOTBALL CLUB tendo assim o Sr. Joaquim de Sá Mendes assumido a presidência.
A 6 de Outubro de 1932 o União de Lamas vence o Sporting de Espinho por 2-0. No jornal “Tradição” salienta a grande exibição da equipa do União de Lamas, com especial relevo para o capitão Gil muito ágil e tecnicista bem como Mesquita e Anacleto. Salienta também o guarda–redes Rei pelas excelentes defesas que executou.
Como nota de relevo a expectativa criada pela exibição da nossa equipa que demonstrou estar bem preparada fisicamente e com muita motivação para fazer frente aos candidatos desta divisão.
No dia 6 de Novembro de 1932 acontece o primeiro jogo oficial, entre dois vizinhos, Feirense, 3 - U. Lamas, 1, jogo realizado no campo do Montinho, na Vila da Feira, partida com alguma emoção e com muita gente a assistir.
Para a continuação do Campeonato da Promoção, jogaram na jornada seguinte em Lamas no Campo do Carrascal, o Lamas F. C. e o Oleiros Sport Club, mas não terminou o desafio em virtude de um incidente entre o extremo direito do Oleiros e o defesa esquerdo do Lamas, sendo nessa altura o campo invadido pela assistência. O árbitro A. Lamoso, entendeu por bem, dar por findo o desafio. As equipas não concordaram com a decisão do árbitro da partida pois o referido incidente nada teve a ver com a equipa de arbitragem. Os regulamentos dessa época faziam prever que o jogo só poderia terminar se o árbitro fosse o agredido. Portanto expulsar os dois jogadores e recomeçar o desafio era a decisão mais acertada.
Como nota curiosa aquilo a que hoje chamamos balneários, em 1932 era conhecido como “casa da equipa”. Era construída de uma forma bastante simples dividida com três divisões destinadas, uma à equipa da casa, outra para o árbitro e a terceira para o visitante. Muito simplificada tinha somente três portas e duas janelas. Os métodos de limpeza e higiene funcionavam de acordo com as possibilidades da época como por exemplo após um desgastante jogo se lavavam e refrescavam com baldes de água fria, um de cada vez com toalha amarrada à cinta e uma vontade indómita de na semana seguinte voltar a fazer o que mais gostavam.
Foi assim durante alguns anos e com a consequente evolução das coisas chegou o desejado chuveiro de novo a água fria, mas com a difícil missão de antes do treino encher o depósito a balde com água do poço.
Salientamos que durante alguns anos a nossa equipa viu-se obrigada a disputar os seus jogos de campeonato no Campo do Montinho na Vila da Feira e outros, dado que o Campo do Carrascal não reunia as condições exigidas pela Associação de Futebol de Aveiro e Federação Portuguesa de Futebol.
Em 3 de Dezembro de 1932 o U. Lamas derrotou a A.D. Ovarense por 7 bolas a zero, obtendo assim o resultado mais expressivo dessa época. Este jogo foi arbitrado pelo Sr. Alexandre Santos que teve um trabalho aceitável.
Venceu também a Mocidade de Espinho por 4-2, conforme notícia do jornal “Tradição”.
A Época de 1933/34
O U. Lamas participou de novo em 1933/34 no Campeonato da Promoção de Aveiro com as equipas do Lourosa, Cortegaça, Esmoriz, S.U.D., Paços de Brandão F.C., Silvalde e Guetim.
Na primeira jornada o U. Lamas deslocou-se a Lourosa e perdeu por 2-0, tendo perdido também nos dois confrontos com o Paços de Brandão F.C. por 5-1 e 4-3. Nos dois jogos disputados com o S.U.D., perdeu em Paços de Brandão por 4-1 e venceu no Carrascal por 3-1.
Na segunda volta do campeonato o Lourosa voltou a vencer o U. Lamas por 3-1, desta vez no campo do Carrascal.
Como nota dominante e pela evidência relatada pelos artigos dos jornais, este campeonato ficou envolto de muita polémica.
Pegando num artigo do jornal “Correio da Feira” de Outubro de 1933 este campeonato em que participaram as equipas acima mencionadas ficou bastante enfraquecido pelo fraco contributo das equipas de arbitragem, fazendo antever que o futuro deste campeonato teria de passar por um melhor desempenho dos árbitros e de maior responsabilidade da parte associativa.