«Não vou sufocá-los com a invencibilidade»

Texto: Marcelo Neves

Foto: Manuel Azevedo


Exemplo dessa pressão positiva será o desejo de manter a invencibilidade?

PA – É um feito que já procurámos o ano passado no campeonato nacional, ao serviço do Feirense, mas não conseguimos, muito embora o trajecto realizado nos tenha orgulhado a todos. Não quero sufocá-los com essa ideia “maluca”, passe a expressão, mas queremos ganhar jogo a jogo, disso nunca abdicaremos. Tanto mais que, excepção feita à segunda-feira, dia em que se nota uma maior descontracção e descompressão, a partir daí o trabalho é a sério e com maior dose de concentração. Nisso estamos sintonizados porque eles já me conhecem bem, eles são um prolongamento das minhas ideias dentro de campo, a minha maneira de pensar foi sendo interiorizada ao longo dos anos, pois tive o prazer de treiná-los a todos em gerações diferentes. Daí que dentro de campo já respiram, já correm como um só, uns dias melhores e outros piores, mas vai ser muito difícil bater-nos. Se isso um dia acontecer… estaremos preparados.

Tem noção de que a notoriedade desta equipa poderá motivar uma maior cobiça de clubes com uma dimensão e uma capacidade financeira superior, de campeonatos mais competitivos e, por conseguinte, mais aliciantes para estes jovens?

PA – A nível pessoal, e costumo dizer-lhes que sempre um nosso atleta tenha um convite de um clube grande isso é motivo de orgulho para todos nós. Não temos uma ideia obsessiva de fechar ninguém a sete chaves, de blindar ninguém. E eles sabem disso e daí eles próprios vêm ter connosco e nos informam quando surge algum interesse. O Leandro, por exemplo, foi prestar provas ao Benfica na anterior paragem do campeonato e para nós foi ponto de honra ele ir! Inclusivamente fizemos questão de acompanhar o Leandro e a mãe a Lisboa, na figura de um dos nossos directores, para que não se sentissem tão deslocados e acompanhar todo o processo. Aqui não “cortamos as pernas” a ninguém, pelo contrário!

É claro que queremos ter os melhores no clube, mas queremos aqueles que querem cá estar. Não obrigamos ninguém, nem entramos em jogos psicológicos nem pressões de qualquer género. Procuramos sempre convencê-los a ficar, claro, mas sei que tenho aqui dos melhores jogadores desta zona e tenho consciência do potencial de todos eles, mas o nosso projecto é claríssimo, que é potenciar as equipas jovens ao nível nacional e conduzir esses atletas até à estrutura sénior. Aliás, já estamos a reestruturar o plantel sénior para a próxima época e é notória a aposta na formação. Um dos trunfos importantes no clube passa pelo facto de eu fazer parte da equipa técnica sénior e enquanto coordenador do futebol de 11 para as camadas jovens, nomeadamente a de juniores, é fundamental para reforçar o diálogo, a comunicação, um trabalho mais coerente. 

 

Não será um contra-senso enorme que equipas com capacidades fantásticas, que possuem condições para realizar um trabalho extraordinário ao nível da formação, acabem por ir contratar jogadores com 15, 16, 17, 18 anos ao estrangeiro… para as próprias equipas jovens, tapando os caminhos aos jogadores nacionais? Que depois são aposta de clubes estrangeiros…

PA – É um contra-senso muito grande e essa realidade acontece a olhos vistos, provocada pela liberdade do mercado. Sinceramente, e sem estar aqui a veicular qualquer tipo de xenofobia ou racismo, o jogador português tem um potencial enorme e tem mostrado ao longo destas épocas e tem vindo a dar respostas muito positivas e temos vários exemplos disso. O jogador português é inteligente, é elegante a jogar, bastante técnico tem sido capaz de moldar-se às exigências do futebol moderno e de fugir desta pressão de excesso de estrangeiros. E a verdade é que quando chega a campeonatos de outros países, acaba por se impor e isso traz-nos mais créditos.

Ou seja, o jogador português só é bom se vier de fora?

PA – Infelizmente criou-se essa ideia errada de que quando estão num bom nível lá fora já estão bons para actuar nos melhores de cá… Não devia ser assim. Felizmente temos um bom exemplo na nossa sociedade futebolística, o do Sporting, que na sua equipa principal revela uma forte aposta cada vez mais forte na formação. Independentemente dos motivos que possam apontar para essa política, é uma aposta ganha e um modelo a seguir, por todos. No FC Porto, por exemplo, temos o caso do Rúben Neves, um miúdo humilde que nunca saiu de Portugal e chegou lá e se calhar só não está a jogar porque se lesionou, sinal de que o trabalho de base está a ser bem feito. Faz-se bom trabalho no campo da formação, temos excelentes técnicos nos diversos níveis, desde os mais modestos até aos melhores clubes, têm boas ideias e bons métodos e todo o futebol português só tem a ganhar com a aposta clara na formação. Esta questão é muito complexa pois envolve muitos contornos, há pressões enormes das estruturas dos clubes sobre os técnicos, sobre as equipas…

 

O PERCURSO IMACULADO DO CESARENSE

1ª Jornada      Cesarense 13 – 1 CD Furadouro

2ª Jornada      Arada  0 – 2 Cesarense     

3ª Jornada      Cesarense 8 – 0 Argoncilhe

4ª Jornada      S. Vicente Pereira 0 – 11 Cesarense

5ª Jornada      Cesarense 3 – 1 U. Lamas

6ª Jornada      Carregosense 2 – 3 Cesarense

7ª Jornada      Cesarense 7 – 0 Macieira de Cambra

8ª Jornada      Relâmpago Nogueirense 0 – 4 Cesarense

9ª Jornada      Cesarense 11 – 0 Mosteirô FC

10ª Jornada    Milheiroense 0 – 2 Cesarense

11ª Jornada    Cesarense 4 – 1 Ovarense

12ª Jornada    S. João Ver 0 – 7 Cesarense

13ª Jornada    Cesarense 2 – 0 Canedo

14ª Jornada    Lusitânia Lourosa 2 – 5 Cesarense

15ª Jornada    CD Furadouro 2 – 3 Cesarense

16ª Jornada    Cesarense 8 – 1 Arada

17ª Jornada    Argoncilhe 0 – 8 Cesarense