«Não somos imbatíveis mas vão ter de contar connosco»
Texto: Marcelo Neves
Foto: Manuel Azevedo
A conquista do 1º lugar, para mais num triunfo diante do ex-líder da Zona Norte, aporta maiores responsabilidades à equipa para os compromissos que se avizinham?
JS – As responsabilidades são igualmente altas, independentemente de estarmos ou não na liderança. Este grupo é ambicioso e como tal é fundamental cultivar uma dinâmica de vitórias e conquistas, esse tem de se tornar um hábito, um vício natural. Embora tivéssemos garantida a passagem à 2ª Fase, é óbvio que terminar em quarto ou em primeiro não é a mesma coisa. Estes jogos acabaram por ser um bom teste à capacidade das jogadoras de resistência à pressão, de elevar os níveis de motivação extra, de ganharem maior confiança e de gerirem as emoções.
É também um aviso aos restantes concorrentes de que o Novasemente está mais forte e tem condições para se intrometer na luta pelo título?
JS – Não tenho dúvidas de que iremos despertar maior respeito dos outros adversários, cientes de que estão na presença de uma grande equipa, que mesmo após ter alcançado os seus objectivos nesta fase não abdica de lutar pelos lugares cimeiros e de se superar. É importante que esta mensagem passe para fora. A vitória em Viana do Castelo foi justíssima, as jogadoras foram brilhantes na forma como assumiram o jogo e como se bateram em campo. Estamos bem preparados e os nossos adversários vão ter de contar connosco para baralhar as contas.
Existe um equilíbrio enorme, há cinco ou seis equipas com plantéis muito fortes e qualquer uma tem qualidade para roubar pontos aos adversários em qualquer campo. Aquela que conseguir apresentar maior consistência e regularidade exibicional, maior maturidade emocional e capacidade para conseguir lidar com essa pressão, poderá alcançar o topo da classificação. Mas não há dúvida de que os indicadores apontam que estamos no rumo certo do trabalho que tem vindo a ser realizado aqui e estamos todos motivados e esperançados para encarar a 2ª Fase e continuar a lutar em campo com respeito mas sem medo de nenhum adversário, conscientes de que não somos imbatíveis, mas na certeza de que eles terão de correr e lutar mais do que nós se quiserem vencer-nos.
Na última jornada desta fase o Novasemente tem pela frente, em casa, o EDC Gondomar, um jogo teoricamente fácil, mas uma semana depois recebem o Santa Luzia para a Taça de Portugal, jogo de cariz decisivo. Não teme que as jogadoras já estejam a pensar na Taça e afrouxem um pouco o ritmo?
JS – Quem vê esta equipa a treinar apercebe-se facilmente de que aqui ninguém facilita nem afrouxa a intensidade nem tira o pé do acelerador! Não vamos nem enfatizar nenhum pormenor, nem desleixar nenhum outro, vamos trabalhar exactamente como temos feito até aqui. Pode suceder que o jogo da Taça, que é decisivo porque se trata de uma eliminatória, esteja a mexer com o subconsciente das atletas, mas temos de focar-nos é no próximo jogo e não deixar fugir a liderança, só depois pensar e preparar a cem por cento o encontro com o Santa Luzia.
Sente que tem havido uma evolução rápida da equipa, se analisarmos a época actual com o que foi alcançado nas duas anteriores?
JS – Na verdade se fizermos uma análise comparativa entre a 1ª Fase do ano passado e a que disputámos esta época, nota-se que estamos mais consistentes, conseguimos a qualificação mais cedo e nessa linha de raciocínio parece-me estarmos melhor preparados para realizar uma boa 2ª Fase. Trata-se de uma série de 8 equipas bem experimentadas, que se espera ser muito complicada e com jogos bastante equilibrados, mas os nossos objectivos passam por tentarmos alcançar uma classificação melhor que a do ano passado e creio termos capacidade para fazê-lo. Neste momento temos um plantel bastante equilibrado, as jogadoras novas que entraram trouxeram mais experiência à equipa, nomeadamente a “Pisko” e a Sofia Ferreira… a Suka, mais desconhecida, está a revelar-se uma agradável surpresa, denota maior entrosamento no grupo e um rendimento muito mais regular e estável e com a espinha dorsal do ano passado, que também acumulou uma experiência importante na 1ª edição do Campeonato Nacional, julgo termos boas condições para fazer melhor este ano.
Pelo menos nesta 1ª Fase o Novasemente só perdeu duas partidas e ambas perante o FC Vermoim, o “carrasco” deste ano, que até está atrás em termos classificativos…
JS – De facto eles têm sido a nossa “besta negra” este ano. Curiosamente estamos à frente na tabela, mas essas coisas não têm nenhuma explicação lógica, parece que são formas de jogar que não encaixam e isto acontece muitas vezes. Mas se me perguntar a opinião sobre as nossas exibições nesses dois jogos, quer em Famalicão em que perdemos por 3-2, quer em casa onde perdemos por 5-3, creio que foram duas belíssimas actuações das nossas jogadoras. Foram jogos em que aconteceu um pouco de tudo, são sempre jogos muito “apertados”, entre duas formações muito equivalentes em termos de valor.
De resto o FC Vermoim será um dos favoritos, a exemplo dos Restauradores Avintenses, se calhar do próprio Santa Luzia, que está a protagonizar uma surpresa esta época…
JS – O Santa Luzia está a desempenhar o mesmo papel que nós desempenhámos na época passada, construiu um plantel bastante equilibrado e parece-me sem surpresas que o quarteto que conseguiu o apuramento para a 2ª Fase é de facto o mais forte da Zona Norte. Em relação ao FC Vermoim… são muito experientes e numa fase decisiva isso tem sempre algum peso.
Estas quatro equipas já se conhecem bem, e as da Zona Sul? O Benfica será sempre um natural candidato… o Golpilheira é o campeão em título, um tanto surpreendentemente também…
JS – Obviamente o conhecimento que temos das outras três equipas será um factor benéfico. Quanto ao Golpilheira, teve mérito e foram justíssimas campeãs nacionais mas terá beneficiado do facto de os outros adversários se terem concentrado nos nomes e palmarés de um Benfica, de uma Quinta dos Lombos, de um FC Vermoim, os Restauradores Avintenses e colocaram o Golpilheira num segundo lote de equipas que não eram candidatas e eles foram jogando “por fora”, amealhando os seus pontinhos e quando foram a ver as outras equipas já não conseguiram anular a distância. Até porque cria-se uma dinâmica de vitória, uma confiança e uma consistência que é difícil de parar. Claro que isso também só acontece se a equipa tiver qualidade e de facto o Golpilheira tinha-a.
É uma má estratégia estar a “seleccionar” favoritos e apontar baterias para “A” ou “B” em detrimento dos restantes…
JS – Completamente! Quem fizer isso poderá ter sérios dissabores porque se numa 1ª Fase, mesmo que a margem de erro não seja larga, podemos ter um dia mau e as surpresas acontecem mas os pontos ainda podem ser recuperáveis, numa 2ª Fase quem tiver um jogo menos conseguido e perder pontos, pode efectivamente ditar o afastamento da luta pelos primeiros lugares. Um dos aspectos negativos no ano passado, provavelmente fruto de uma certa falta de maturidade do próprio plantel, foi termos perdido muitos pontos nos derradeiros dois, três minutos de jogo. Este ano já não seremos surpreendidos dessa forma, pela maturidade adquirida e a noção de que os jogos são disputados até ao fim, não pode haver momentos de descontracção, se for preciso jogar menos bonito, pois joga-se… enfim, às vezes temos de aprender da pior maneira e se calhar a perda desses pontos custou-nos um ou dois lugares na tabela final. A margem de erro é muito mais apertada!
Ousaria aventar o nome de um favorito dentre este lote de 8 “finalistas”?
JS – Por aquilo que já tive oportunidade de observar, desse lote o plantel que me parece mais equilibrado, o que não significa que seja mais favorito por isso, é o da Quinta dos Lombos. E já venho a afirmá-lo há alguns anos. Curiosamente os resultados não têm espelhado aquilo que disse, mas para mim, sendo um clube cuja forma de trabalhar o futsal feminino admiro bastante, uma forma exemplar com a quantidade de escalões e de atletas que congrega – e os bons exemplos devem ser seguidos – eles reúnem um conjunto que, pela sua quantidade e qualidade, é o mais homogéneo de todos. Mas dentro de campo nem sempre isso se traduz em êxitos…
Até porque num jogo há inúmeros imponderáveis e factores fora do controlo…
JS – Exactamente! E nem sempre ganha a melhor equipa. Também há a paixão e a própria imprevisibilidade da competição é algo que nos fascina. Nós começamos 0-0 e nunca sabemos quem vai ganhar, se bem que haja sempre um favorito no plano teórico. Além do Quinta do Lombos temos sempre um Benfica, um FC Vermoim e o próprio Golpilheira, por ostentar o título de campeão nacional, embora me pareça que este ano os adversários vão olhar para eles com desconfiança e não vão facilitar e terão cuidados redobrados. Parece-me que este lote estará numa primeira linha, até por serem formações onde pontificam atletas habituadas a vencer, a estar nos grandes momentos de decisão, nas grandes finais e isso tem muito peso.
E o Novasemente, também tem os seus trunfos?
JS – Nós também temos jogadoras habituadas a isso, não sendo a maioria do plantel, temos a irreverência e a ambição de malta que quer aparecer no futsal feminino e conquistar algo marcante na modalidade e temos uma ambição enorme. Sabemos que se jogarmos aquilo que podemos e sabemos, conforme temos demonstrado nesta 1ª Fase, será muito difícil para os outros adversários nos baterem. A equipa está em boa condição física, está muito bem mentalmente, temos conseguido na maior parte dos jogos aliar os resultados com a qualidade exibicional e está toda a gente bastante motivada. Agora, vai começar a fase mais aliciante da temporada, pela qual esperámos todos estes meses.
O Novasemente é a equipa mais representada na Selecção Nacional – a Sofia Ferreira e a Pisko participaram em todas as cinco edições do Mundial de Futsal Feminino, a Cátia Morgado em três, sem esquecer também a Sara Fatia, que participou no Mundial de Oliveira de Azeméis. Não há dúvidas de que estas presenças aportam uma importante mais-valia, elevando o potencial e qualidade do plantel, mas subindo também a fasquia quer da motivação quer das responsabilidade quer das ambições da equipa, das outras jogadoras a nível individual?
JS – Não há dúvida de que se trata de um feito notável que este clube alcançou em tão poucos anos de existência. Naturalmente que é uma mais-valia e uma motivação importante para as outras atletas e, se calhar, a equipa com essa responsabilidade acrescida traz também algumas vantagens, como por exemplo haver uma maior atenção dos responsáveis nacionais pelos nossos jogos, suscita maior curiosidade dos adeptos e simpatizantes que sabem que reunimos um lote de jogadoras de grande qualidade. Num meio pequeno como este onde nos inserimos, o crescimento do clube, além da sua estrutura e Direcção, também passa, fundamentalmente, pela presença desses nomes mais sonantes na equipa sénior, que é o topo da pirâmide do grupo desportivo do Novasemente. Até porque o nosso universo de selecção e recrutamento de novas atletas seja curto, não obstante estarmos próximos de um grande centro urbano como o Porto. Daí a necessidade de nos virarmos para atletas já “feitas”, com experiência que estão a ajudar-nos imenso e, se vieram, é porque também em nós reconheceram alguma qualidade e capacidade para irmos ao encontro dos seus objectivos individuais. Apesar de terem um percurso notável ao nível do futsal, não deixamos de falar de jogadoras na faixa dos 25, 26 anos, ainda com uma margem de progressão imensa na modalidade, não estão nem de perto nem de longe perto do final das suas carreiras. Elas sentiram que este era o espaço ideal para continuar as suas carreiras, para assumir um novo projecto e novos desafios e esperamos poder ir ao encontro dessas ambições, que são as nossas também.