«Devem apostar mais nos jovens portugueses»

Texto: Marcelo Neves

Foto: Manuel Azevedo

 

A respeito desta diferença de valores colectivos, Manu considera “algo inédito” a campanha do Cesarense, uma vez que “estes campeonatos costumam ser mais competitivos”. No entanto admite que, excepção feita a “três ou quatro equipas capazes de complicar-nos a vida”, com destaque para o U. Lamas e o Carregosense, o grupo de Cesar “é superior.

Para ambos dianteiros, golear não é sinónimo de humilhar, e deixam-no bem claro. “É assim que vemos o respeito pelo adversário, nunca baixar o ritmo de jogo e procurar sempre marcar mais. Não queremos humilhar ninguém, pelo contrário, se lutamos sempre ao máximo é porque respeitamos o valor do opositor, mas também temos ambição para querer sempre mais”, sublinha João Santos.

De uma coisa os jogadores do Cesarense têm a certeza: cada vez mais esta equipa será “um alvo a abater”. “Toda a gente agora está empenhada em dificultar-nos mais a tarefa e até mesmo roubar-nos pontos, jogando mais fechados, com maior agressividade, fazendo algum jogo psicológico na tentativa de afectar-nos negativamente. Mas felizmente sabemos controlar esses factores, conseguimos manter a calma e depois de chegarmos ao primeiro golo tudo se torna mais fácil e acabamos por dilatar o marcador”, desdramatiza Manu.

“Já sofremos isso na pele no primeiro jogo da segunda volta, contra o Furadouro”, recorda João Santos, destacando a discrepância de resultados nos dois jogos já disputados contra o mesmo adversário. “Na primeira jornada, aqui em casa, vencemos por expressivos 13-1 mas no segundo jogo, fora, foi um tangencial 3-2. Temos consciência de que daqui em diante vai ser mesmo assim, até final. Os jogos serão cada vez mais duros, mas estamos preparados para isso”, realça.

Outra certeza que ambos partilham é a de que existe suficiente qualidade para manter o “statu quo” da equipa exactamente nos mesmos moldes. “Queremos manter-nos imbatíveis até final e vamos continuar a perseguir esse desafio, é uma das coisas que nos motiva imenso. Queremos marcar este clube pela diferença. Se não o conseguirmos, para nós será uma quase derrota na medida em que queremos honrar os nossos objectivos e concretizar tudo o que nos foi pedido”, sublinha Manu.

“Acho perfeitamente possível. Sabemos que será mais difícil, mas se fomos capazes de chegar até aqui sem perder, porque não pensar que podemos fazê-lo até final? Só depende de nós, temos de lutar por isso. É uma pressão boa, motiva-nos ainda mais”, reitera João Santos. O jovem de 18 anos natural de Nogueira do Cravo acrescenta outra motivação extra que pode ser benéfica à equipa: “o facto de estarmos a fazer esta carreira traz maior visibilidade e também mais gente ligada a outros clubes para assistir os nossos jogos”. João confessa já ter ouvido “alguns rumores de estar um ou outro ‘olheiro’ de clubes grandes” a vê-los jogar, o que “é muito bom, mexe connosco saber que as pessoas estão atentas, é um reconhecimento do nosso trabalho”. 

E para Manu, será essa uma oportunidade de, por exemplo, regressar ao seio dos “dragões”? “Sinceramente, não sei responder”, confessa o goleador cesarense, algo desiludido pela política adoptada pelos clubes grandes do nosso futebol, “que preferem contratar jogadores estrangeiros, até para as suas camadas jovens, do que apostar nos jovens portugueses”. Por isso, assume sem receio, “se calhar preferia integrar um clube de menor dimensão mas onde pudesse ser uma aposta forte”.

“É frustrante, isso, mas é assim que as coisas estão no nosso país”, reitera João Santos, para quem “competirá aos dirigentes da Liga de Futebol Profissional fazerem algo para mudar esse estado de coisas”. Ideia com a qual Manu concorda em pleno advogando que a Liga de Clubes “deveria seguir o modelo de Inglaterra, limitando o número de estrangeiros por escalão, porque há milhares de jovens como nós que perseguem o sonho de atingir um patamar elevado e têm os caminhos todos tapados”. Havendo um limite, “os clubes terão de apostar mais nos jogadores da formação, o que iria aumentar a qualidade da formação e criar muito maior motivação nos jovens”.